Os meus impossíveis

Levem-me a um mundo em que ainda não se falava da reciclagem e o Al Gore ainda não dava palestras sobre o meio ambiente. Em que ainda o sudoeste asiático não tinha sofrido o Tsunami, ou os EUA os furacões com nomes de mulheres (pergunto-me porque é que não houve o furacão Alfredo!). Em que ainda não se falava da escassez de água ou do burro, que está em vias de extinção.
Tragam-me uma sociedade onde ainda não se fale de Sida, ou da subida do preço do barril do petróleo. Onde não se discutam os atentados terroristas, ou a condenação de um pedófilo. Onde não se vejam mendigos nas ruas, ou não existam bairros de lata.
Mostrem-me um Portugal onde os políticos são honestos e cumprem o que prometem nas campanhas eleitorais. Onde eu me possa formar e ter depois um emprego garantido. Onde as pessoas não tenham que morrer para serem chamadas para as operações nos hospitais públicos. Em que não se “matem” crianças apenas porque agora não calhava bem ter um filho.
Coloquem-me numa casa onde não se fale da deslocação industrial, ou do desemprego. Onde a mãe tem a certeza que os seus filhos vão ter um futuro risonho, longe das drogas, prostituição e criminalidade.
Apresentem-me um grupo de pessoas que não conheça a fome em África, a obesidade nos EUA, ou a anorexia no Brasil. Que não conheça o racismo e a xenofobia, ou não tenha ouvido a notícia de uma mãe que abandonou o filho recém-nascido no caixote do lixo. Um grupo de pessoas que não me julgue pelo que visto, ou pela quantidade de notas que trago na carteira.
Tragam-me um espelho que não me mostre os meus defeitos.

Bárbara Matias
12º B N.º 3